as lagrimas sao o supremo sorriso

Sunday, April 30, 2006

Liquidification

- Sopa, batidos, alcool e papa Cerelac. Há 3 dias que vives assim...

- Claro, querias que vivesse como? O estado líquido é mais suave que o estado sólido. Agrada-me mais.

- Até ao dia ;) ...


- Pois. Depois logo se vê.

Saturday, April 22, 2006


"Mete-me impressão ver as pessoas chorar.." disseste tu. Enquanto o dizias abraçaste-me forte.


Abraçaste-me tão forte que eu, eu que nessa altura consenti que uma das minhas lágrimas se misturasse na textura da pele do teu ombro, senti que todas as tristezas e medos do teu corpo passavam também para o meu através da roupa, dos braços entrelaçados e da força não só do aperto mas também da estima. A emoção tem destas coisas. Tremi.

Quase que choraste comigo de aflição. Senti-o. Afligiste-te tal como uma mãe se aflige quando o seu filho bébé se queixa e ela não sabe bem de quê.

Pediste-me, depois, um sorriso.

"Não gosto de te ver triste". Eu expliquei-te num olhar que a tristeza é aquilo que nos faz saber o que é a felicidade. Sem uma não existiria a outra.

Dei-te o sorriso que pediste. Ofereci-te um sincero brilho nos olhos, mesmo que a sua cintilição fosse também e ainda por estarem de comoção aguados. E tu descansaste. Respiraste de alívio por não me veres mais com a mágoa a sair pelo olhar.

Sequei o choro contido sabendo que ainda não passou e que tudo ainda ainda estará para vir. Enxuguei a aflição do momento e preparei-me para enfeitar os meus olhos com a intensidade da maquilhagem de um risco preto. Afinal, "hoje é sábado e não há lugar para tristezas". Afinal hoje é o dia em tu me abriste o coração e me relembraste o que é o iniciar de uma Amizade.

Wednesday, April 19, 2006

3 dias e 3 noites


Ela chorava. Não parava de chorar. Três dias e três noites em que as lágrimas lhe faziam mais companhia do que alguma vez tinha tido. Chorava e ao sentir a humidade de sal escorregando pelas suas bochechas, correndo até à sua boca, ao seu pescoço e algumas até ao cós da sua camisola de gola alta, julgava-se submersa num banho quente de carícias. Ela assim o tinha escolhido. Gostava deste choro silencioso que a protegia da chuva do dia. Gostava de se sentir refém dos seus próprios sentimentos. Gostava que a sua tez ficasse vermelha de tanta dor expelida pelos poros.


No dia antes de ter começado esta maratona, Joana tinha dito no emprego que ia aproveitar o feriado para ir a casa dos primos, descansar no monte onde tinha brincado em pequena. Mas já sabia que não ia. Nem sequer tinha que lhes ter dado satisfações, mas só de pensar que alguém pudesse imaginar o que iria fazer, só lhe apetecia chorar ainda mais. Por isso, decidiu mentir a quem não tinha que dizer a verdade. E assim foi: na quinta feira, às 7 da tarde correu ainda até uma farmácia aberta e comprou pingos para o nariz e creme hidratante para a pele sensível. Sabia que a vermelhidão e a acidez lhe poriam a derme, a epiderme, até a carne e as veias secas, sem falar no estado em que deixaria a sua alma. A alma, essa, secaria mais tarde, iria sumindo de mansinho, de acordo com o volume de lágrimas que se soltariam dos seus sacos lacrimais. Mas sabia também que era a única forma...Preparou-se e soube que era agora ou nunca.


Há meses que quase explodia. Fingia ser dura, mas a verdade é que andava a pisar o risco. Muita emoção junta nunca tinha dado para aguentar de forma tão impávida e serena. Não dá para não deitar uma lágrima e depois esperar que corra tudo bem, que o controle tome conta de nós.. E ela sabia. Sabia, sem saber muito bem porquê
que seria este o dia escolhido para começar. O dia da revolta interior, que apesar de a afligir, lhe apaziguava também o espírito e lhe dava sentido à vida. Sabia, porque quase tinha começado no mesmo dia à tarde, quando no trânsito lhe chamaram um nome:

"Irresponsável!!...", gritou um homem bem pronto e com um penteado da moda, num descapotável azul escuro. Irresponsável... Toda a tarde a maldade da palavra lhe tinha injustiçado o pensamento. Para ela, a Palavra era algo de sagrado, podia dar força mas podia igualmente espetar, podia esfaquear uma pessoa também...Pobre Joana, que desde logo se lhe tinham espelhado os olhos... Mas aguentou. Foi ainda forte e almoçou uma salada de frango, pensando na irresponsável que era em comer o coitado do bichinho e conseguiu superar ainda a irresponsabilidade, de em semana de dieta, lhe ter apetecido beber uma groselha cheia de açúcar. Mas aguentou.


Chegou a casa eram quase 8 e ele ainda não tinha aparecido. Enrolou-se numa colcha de lã cor de laranja e depois de ter aberto os estores deixou-se assim banhar pelo branco acinzentado de uma lua a caminho de cheia. Cheia de luz para lhe dar. E foi assim que começou. Imaginou-se, não só banhada pela luminosidade do astro, mas também pelo seu próprio choro. E começou. E soube-lhe bem.


Esperou que ele chegasse para o avisar. Explicou-lhe, soluçando uma estória atabalhoada que ele não percebeu. Falou em ultrapassar limites, em precisar de descarregar para só depois voltar a querer a energia da vida, em sentir a necessidade de estar sozinha, sem o estar na realidade afinal. Pediu-lhe um espaço que ele deu. Deu-o com a maior das facilidades, e ela, triste, chorou ainda mais. Acabou ele, afinal, por ir para o tal monte dos primos dela, num Alentejo próximo das memórias da cidade onde Joana ficou. A chorar.


Três dias e três noites em que não parou. De dia, no conforto da manta já molhada nos cantos enrodilhados nas suas pequenas mãos, de noite, chorava nos seus sonhos. E aí, nem mesmo os olhos fechados, a impediam de oferecer aos lençóis as gotas terapêuticas do seu triste cansaço.


Três dias e três noites. E ele que não ligou. A Joana tinha-lho pedido e ele fez-lhe a vontade. Também por isso ela chorou. Chorou tanto até já não ter mais lágrimas. E elas foram mais do que alguma vez se julgou ser humanamente possível verter. Mais de mil. Talvez 3 mil, mil por dia. Ou até o dobro, nunca se chegou a saber. O sofrimento foi tal, tão compulsivo, desesperado, que se cansou ele também.
Finalmente.


A Joana, na noite de domingo, fartou-se de estar cansada, de chorar e de sofrer. Passou ainda um noite molhada em si mesma, mas quando acordou, na 2º feira, com ele, já deitado ao seu lado, levantou-se sorridente, correu a lavar a cara e os dentes, colocou uma camada de creme hidratante e foi trabalhar como se nada se tivesse passado.

o cérebro do coração


Ainda não percebi muito bem se o coração tem cérebro. Será que o sangue o bombeia tendo por única razão a rotina imparável dos batimentos cardiacos ou será que os litros o afagam à sua passagem só porque acham que lhe sabe bem?


Sempre o vi afastado da razão e perto do sentimento mas ultimamente uma ideia insistente tem alterado a minha forma de o olhar. Lá dentro, bem no fundo, esta máquina destemida não me parece ter só sentir, nem só medo, nem só amor, nem só adrenalina ou ritmo. Lá dentro, bem no fundo, o coração anda desatinado pelo pensamento, o que me parece cada vez mais incoerente, já que pensamento vem da cabeça e não surge do tórax.


O Coração, esse que sempre acreditei ser o mais puro dos órgãos, mesmo quando poluído pela insensatez ou pela frieza, parece-me, cada vez, uma peça do puzzle. Que pena. Eu, que o julgava único e implacavelmente auto-suficiente.


Acho que ele se torna, com os anos e os dias e as horas a passarem por ele, um chico-esperto. Ele sabe o que lhe convém e foge do que o magoa e lhe causa arritmia. Sim, eu acho que ele tem cérebro. Um cérebro pequenino que o faz saber o que quer, mesmo que essa certeza não seja a sua melhor conselheira.

Monday, April 17, 2006











As lágrimas são o supremo sorriso. Quem não as entende é porque esconde a alma atrás dos olhos.