as lagrimas sao o supremo sorriso

Tuesday, September 26, 2006

Sintonia


Tento sintonizar-nos
A estação ainda não está definida
A frequência está tremida, afastada.

Tento sintonizar-nos
Procuro no FM. Passo pelo AM
Sustenho o medo de não nos encontrar
De passar por nós e não nos ouvir.
Seguro a respiração.
Desligo ou ponho no pause?

Tento sintonizar-nos.
Andamos algures por aí.
No vento,no mar, no céu do dia sem núveis.

Tento sintonizar-nos.
Já estou ofegante. Irrequieta.
Acho que descubro. Parece-me ouvir-nos ao longe.
Vou tentar sintonizar-nos onde não existe nada.
Tento sintonizar-nos na estação inexistente.

Passo agora da tentativa à Verdade.
Sintonizo-me em ti. Em nós.
Sintonizo-nos sem medo de não gostar da nossa música.

Sintonizo-nos nos teus olhos enquanto me beijas na cozinha.
Sintonizo-nos quando a ponta dos teus dedos toca na minha pele.

Aos poucos a música sumida começa a aparecer.
Nunca se tornou tão clara como agora, no teu sorriso ao fundo da sala.

Procurei sem encontrar.
Não procures! Espera que aparece! Tu sábe-lo...

Sintonizo-nos.
Direito, sem interferências.

Passei a vida a mudar de posto.
Sintonizo-nos.
Cá estamos. Vou fidelizar-me ao som ideal.

Sintonizo-nos no abraço apertado do Amor.
Sintonizo-nos no cheiro, no toque, na nossa alma e fios de cabelo encaracolados.

Suspiro de sorriso na alma pregado
Sorrio consolada no conforto do encontro.

Sintonizo-nos!
Afinal existe a estação perfeita.
Afinal consegui apear-me na hora H caindo directamente nos teus braços.

Afinal existe a música certa para os meus ouvidos...
Sintonizo-nos e gosto tanto da playlist que não me apetece mudar nunca mais de posto...

Saturday, September 23, 2006

Até logo Zé!

Quando uma vida acaba todas as outras continuam. Por mais feitos que tenhas feito, por melhor ou pior que tenhas vivido, por mais ou menos amigos que tenhas deixado do lado de cá, todos eles, os teus momentos, parecem esquecidos no instante pontual do Adeus. Sim, porque, cada vez mais acredito que a morte tem hora marcada e não tolera qualquer tipo de atrasos. Revoltante mas incontestável.

Choraste, riste-te, fizeste e educaste filhos e netos, deste a mão a amigos e contorceste-te durante anos em duras lutas contigo mesmo e com o Mundo. E o que é que ele te oferece no final de tudo? Qual a moeda de troca da tua dádiva para com ele? O terminus dos teus dias. Em silêncio. Contigo mesmo e com mais ninguém. Mesmo que com muita gente à volta...Um sem fim de Fim que se abre à tua frente como um portão trancado com 7 voltas ao teu passar. A incógnita do Porquê. O surreal do chegar finalmente à única certeza da Vida: a própria Morte.

Mesmo que aches que fugiste à mediocridade dos dias, irás acabar como todos os outros. Frio. Quieto. Imóvel. Inerte. Inestimado. Sobrevalorizado. Porque nunca ninguém foi tu. Só tu. E tu estás a ir embora. E mesmo que nunca tenhas acreditado nisso, agora sabes que afinal somos todos iguais. “ O pó ao pó retorna”. E o teu pó está tão próximo de ser a tua Verdade...

Vezes demais tento fazer o exercício... Saber que ela está aí, ao meu lado. Que não se vai embora e que se torna uma certeza morbidamente sincera por não nos mentir nunca na sua intenção. Aqui e agora. Morro.Vou-me embora. Acabo de vez a jornada. Cedo, sem saber como nem porquê, um lugar não cativo ao outro que se segue na fila. Ele que salte para o carrossel em andamento. Sem ajudas e com muito cuidado para não cair que eu já estou em rota descendente e conheço o pânico da queda sem rede...

Saber que se vai, que se está a morrer. Que nos estamos a apagar da face da terra como uma mão cheia de café moido que vai sendo sugado pela água quente impregnada na boca da máquina de café. Pouco a pouco. Saber que a vida vai sendo coada, até deixar de existir, até só sobrar o borrão escuro e sujo do que um dia já fomos em vida. O borrão a que chamamos Memória.

Fazer as pazes connosco mesmos. Perdoar. Controlar o medo. O escuro. A ausência. A Tua ausência, a do cheiro, a das cores, a da luz e do vento a bater na tua testa e a do sol a bronzear-te ainda mais a pele já escura. A minha própria ausência. Questiono-me ainda até que ponto a Coragem e a Calma se tornam, nesse momento decisivo as qualidades mais importante do Ser. Sei que vou deixar de existir. Aceito a minha Não-condição. Adeus. Não luto mais. Deixo-te Vida, deixo-te para oferecer o meu lugar..

Por agora, dou por mim a sugar lembranças ao meu coração. Gestos de carinho, palavras e olhares que me ofereceste, Avô. Obrigo-me a sorrir quando penso nas tuas piadas, nas tuas mãos fortes e jeitosas por tudo conseguir arranjar. Abraço a ternura dos teus ensinamentos, acho agora piada às tuas zangas e lembro-me das caminhadas com o cajado na mão em que me ensinavas a linguagem dos bichos e das plantas da nossa serra. Amo o teu colo de mel e consolo-me com os teus petiscos debaixo do telheiro. Encontro as tuas mãos nas minhas, cobertas de barro e argila e acho que consigo agora admirar o teu poder de organização e cuidado.

Sei-te corajoso de alma e fraco de corpo, porque esse, ao abandonar-te só te está a fortalecer a vontade e a apaziguar o espírito. Sinto-te no desamparo de uma Certeza que já foi para ti tão longínqua quanto a minha o é hoje em dia. Sem saber para onde voas, e sem teres feito um check up geral ao teu kit de viagem... não tens qualquer garantia de que não irás queimar as asas e terminar em queda livre estatelando-te no chão.

Em que é que acreditas afinal? Em que acreditamos todos quando a nossa hora chega finalmente? Morrer em paz seria a melhor opção. Deixar os olhos fecharem mas não a esperança e a sensação de missão cumprida. Tu que a cumpriste meu avô, na tua vida simples e repleta de afectos. Tu que a viveste e que te estás a deparar com a mais assustadora experiência da tua ainda Vida. Tu que ao veres chegar a Morte decidiste deixar-te alienar por sonhos fantasiosos, sonhos onde trabalhas em minas e salvas companheiros que insistem em escorregar pelas escarpas escorregadias. Tu que amas as tuas meninas e que te assustas, por Amor, com a incerteza das suas vidas. Tu que zelarás, para Sempre, por elas. Por nós que te amamos também.

Não te julgo. Tento ficar no teu lugar e sentir o teu pulsar.A ti,a quem tenho um único pedido a fazer antes de ires: Deixa-te levar pelo vento sem teres medo de onde ele te vai levar. Vai sem sofrimento muito, por favor.. Vai com a certeza de que o Amor e a Memória te farão para sempre Eterno. Tenta fazer como eu que comecei este texto com uma visão pessimista e que ao correr das letras e ao desencadear das ideias libertei o meu coração revoltado e lhe permiti que passasse a acreditar na Eternidade da permanência de uma vida pela sua memória. Na tua eternidade.

O Tempo que deixa agora de ser Tempo para ti, será para nós o Tempo que te oferecemos dentro dos nossos corações. Infinito. Sabes?, é que mesmo partindo assim pelas mãos da inevitabilidade, nunca irás partir da alma de quem te ama.

Então até logo Zé, que Adeus nunca se diz... lembras-te?

Friday, September 01, 2006

Back from the dream land...

...the return of myself is close.
Just in a few moments... after the breack - aliás... break... sorry. :)!